Bright Innocence

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Série: Condenada.


A garota tinha cabelos longos e claros, lisos e finos. Olhos amêndoados e cilíos grandes rodeavam uma aguçada curiosidade sobre o mundo. As pernas torneadas e a pele branca como a da branca de neve. As unhas estavam sempre coloridas, eram as únicas cores que a faziam acreditar ser um ser humano normal. Vivia da imaginação, era uma artista que nunca descobriu seu dom, fez-se acreditar que sim. Os artistas eram verdadeiros genios loucos, pensavam demais, se deixavam vencer pela nostalgia de uma vida intensa e melancólica. Existia beleza, naquele mundo preto e branco, mas nunca sentia a paz entrar por seus pulmões. Era sempre uma realidade tão distante, e sem saber responder a garota sabia que nunca pertenceria a uma realidade comum, cafés-da-manhã com direito a rosquinhas e torradas com geléia de framboesa, sucos naturais e o leite quente, a toalha estampada com frutas sob a mesa, e talvez, o que pudesse ser considerado o mais importante: sorrisos e abraços felizes.
Tão feliz ela era quando pequena, a família toda reunida, as vizinhas fofocando, sua mãe fazendo sala, os amigos da empresa de papai. As crianças, seus amigos, correndo de pique-esconde entre as flores do jardim da casa, e aquele ar de felicidade, de união, de paz. As reuniões permaneciam fiéis, e o conjunto de coisas essenciais permanecia igual. As manias da garota também, estirada em uma cadeira de plástico, com os óculos preto de sol enchergando muito mais do que aquele céu azul, do que aqueles pássaros e sorrisos acolhedores de quem rodeava sua casa.
Anne era ferozmente a mesma garota de todos os dias, em busca dos mesmos sonhos, das mesmas realizações, da mesma salvação. Era corpo e alma, era razão e emoção, equilíbrio e sanidade. Era a pequena Anne, com cabelos longos e claros esperando por algo que nunca fosse capaz de imaginar.

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